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Tópico - Testemunho - Anabela


Utilizador Anabela, Citar


Sr Alberto


Obrigado pela sua resposta sobre a qual tenho a fazer o seguinte reparo :


O 1º internamento da minha mãe foi no serviço de Cirurgia onde, apenas e só a simpatia dela, lhe permitiram ter um tratamento mais ........ humano. Eram frequentes as queixas dos vários doentes, bem como dos familiares. Era certo e sabido naquele piso que os tais profissionais não gostavam de ser incomodados. Aprendi isso mesmo quando fui ter o meu filho naquele mesmo hospital, meses antes.


Durante esse mês, o medico dela foi vê-la APENAS 2 vezes. Uma para lhe dizer que iria ao H. Pulido Valente colocar uma protese ( onde foi tratada como se fosse uma rainha,) e outra para lhe dar alta, porque as analises e a restante panoplia de exames, mostraram que todos os valores estavam estabilizados, não existia qualquer avanço da doença e tinha havido uma excelente evolução do seu estado em geral. Por tudo isto não justificava retê-la lá. Mas ainda durante esse período tentaram por 2 vezes colocar o cateter. Uma vez uma das maquinas necessaria ( existem apenas 2 )  avariou e a outra foi requisitada por outro serviço, da outra vez apenas sei que não deu para fazer porque o dr não teve tempo. NUNCA nos disseram porque tinham tomado a decisão de colocar o cateter em vez de administrarem a quimio pelas veias do braço, NUNCA pediram qualquer autorização para o fazer, NUNCA nos explicaram o risco que isso acarreta ( infecção ), NUNCA nos procuraram para nos explicar o que a minha mãe tinha. O diagnostico foi feito pela nossa medica de familia ( excelente ) e por uma outra dra do serviço de oncologia, baseadas apenas nas analises que a minha mãe tinha feito a pedido da medica familia.  E foi através da dra de oncologia que conseguimos o internamento para assim ser possivel a execução da TAC e colonoscopia com urgência que, de outro modo, demorariam muitas semanas.


Todos os resultados exames bem como a gravidade e terapeutica da doença que tinha soube porque durante 1 semana não larguei a porta daquele hospital e fiz inumeras tentativas para falar com o medico. Para ter uma ideia da falta de informação e da dificuldade em obtê-la tive que tirar Baixa para conseguir dedicar todo o meu tempo a tentar e por fim conseguir chegar á fala com o medico, que expos a realidade dos factos e disse-me que apesar de muito grave ainda havia esperança porque a metastização estava circunscrita a uma determinada parte do corpo e, mais importante de tudo, não tinha atingido os pulmões nem nenhum orgão acima dele. Por tudo isto tinham optado por,  1º "matar" essas metastases e só depois atacar o tumor primário. Falou-me que todo este cenário só seria possivel se conseguissem colocar a protese. E conseguiram e a luz que tanto esperávamos ver, apareceu ao fundo do tunel.


O que aconteceu depois, aquando da colocação do cateter, só Deus sabe. O que eu sei é que durante 3 dias ninguém lhe fez nada .... ficou simplesmente abandonada, completamente prostrada num corredor que dá acesso ao SO. Eu pedia todos os dias para falar com alguém que me explicasse o que se estava a passar e o que estava a ser feito e ninguém se dignou a fazê-lo. Até que ao 3º dia perdi a paciência e esperei desde as 9.30 horas da manhã até ás 18 horas por um medico. No inicio da espera as enfermeiras vinham ter comigo e diziam que o sr dr já viria ter comigo. Conforme as horas foram passando, já vinham ter comigo incredulas por AINDA ali estar. Enquanto esperava, também eu vi o que se passava naquele corredor do SO, e digo-lhe, não corresponde, de todo, á sua descrição de dedicação, trabalho extenuante, etc,etc. Até eu fiz de auxiliar porque até para trazerem uma arrastadeira fazem um pé de vento que parece que lhes estamos a pedir a vida. E isto foi só a situação " mais leve" a que assiti.


Por fim lá veio o medico e a explicação : " pois ..... não sabemos o que a sua mãe tem. mas diga-me o que notou nela ". Fiquei incredula com a pergunta mas desejosa de ajudar, expliquei todo o processo. Foi-me dito que ENTÃO no dia seguinte iriam começar a fazer exames para se determinar o porquê daquele estado de prostração. 3 dias depois da ocorrência  (?????!!!! ) ..... 3 dias ..... preciso explicar mais alguma coisa ou já começou a perceber a minha revolta? E provavelmente tomaram esta atitude porque fomos presistentes e começamos a mexer os cordelinhos.


Não sou médica nem tenho qualquer categoria que se enquadre na de "profissional de saude" mas digo-lhe o que aconteceu : falta de asseptica.


Acredito que existam bons profissionais de saude, dedicados, preocupados e ansiosos por curar mas não naquele hospital e muito menos naquele serviço. Chamam-lhe o corredor da morte.


Além disto, acho realmente incrivel que, perante a ameaça de bacterias hospitalares, deixem uma pessoa já de si fragilizada e após uma cirurgia com um elevado grau de infecção, num corredor onde passam centenas de pessoas, tornando o risco ainda maior.


Depois, as lesões da minha mãe, situaram-se ao nivel cerebral. Sempre nos quiseram impingir a ideia que o problema era do tumor, mas tenho na familia os tais profissionais de saúde que me ajudaram a perceber como as coisas acontecem, tanto que quando rejeitei essa ideia perante uma medica, já na semana final da minha mãe, ela baixou os olhos e percebeu que eu estava bem informada e não teve alternativa senão confirmar o que um outro dr já me tinha dito. Pena tenho eu de ter falado com esses familiares demasiado tarde.


Ainda para além disto, de todo o lado davam-nos informações contraditorias. Essa dra disse-nos para perdermos as esperanças pk era uma questão de horas pk as lesões cepticas eram gravissimas, as enfermeiras de manha diziam que era uma pneumonia, á tarde já era um trombo e á noite cepsis. Quando pediamos para a trocarem de serviço de modo a que a familia pudesse estar com ela, diziam-nos que não porque o estado dela era reversivel. Quanto mais perguntava-mos menos nos diziam. E nós não só perguntavamos muito como mostravamos por A + B que o que nos diziam eram "tangas".
Inclusivé, num dos dias que tentámos ver a minha mãe e foi de todo impossivel pk nos disseram que o serviço estava lotado e por isso sem condições para as visitas, conseguimos, após muitas reclamações, chegar á fala com o director do serviço de urgência que nos disse logo de caras : o cancro da vossa mãe é terminal. Perguntámos : então se é terminal porque fizeram vocês o Estado gastar dinheiro com a protese e o cateter, numa altura em que se pede contenção de custos? Porque não a mandaram logo para os cuidados paliativos? Porque a retêm aqui e nos dizem que a situação vai reverter-se?
Sabe qual foi a resposta? Silêncio. E há mais alguma coisa a dizer????


Disse que a memoria da minha mae vai estar sempre connosco? Vai sim mas que consolo me trás isso?????
Não a vou beijar mais, não a vou abraçar mais, o meu filho não vai ter a quem chamar avó, não vou ouvir mais as suas historias, nem a sua voz, respirar o seu cheiro, ouvir os seus conselhos, partilhar os meus pensamentos .... não a vou ver mais. Não vou tirar nenhuma foto com ela no meu casamento, nem na comunhão do meu filho, nem no Natal nem em mais nenhuma festa ou ocasião. O lugar dela á mesa está vazio.


Pare um pouco, olhe á sua volta e procure a pessoa que mais ama no mundo. Achou??? Agora imagine a sua vida sem ela. Acha mesmo que a memoria dessa pessoa a substituiria? Serviria-lhe de consolo apenas recordar?


E não culpo os profissionais saude? Culpo o Estado? Nem me vou dar ao trabalho de esmiuçar esta porque senão ficaria a noite toda a escrever.


Desejo profundamente que tanto o sr como todos aqueles que estão a enfrentar esta luta, sejam sempre assitidos pelos tais BONS profissionais de saude para que no futuro não se escrevam mais revoltas nesta pagina.


16-06-2011, 17:56
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