D. ISABEL SOUSA:
Várias vezes ao dia visito o "diário de bordo" para ver como vai a "contagem dos náufragos" neste mar imenso de dor, de sofrimento, de desilusões, de falta de Amor pelo próximo, de falta de solidariedade, e de ódio que baste... Sinto por vezes que somos tratados como antigamente tratavam os marinheiros carregados de escorbuto, que eram pura e simplesmente lançados ao mar sem apelo nem agravo; digo isto, talvez por ser filho de Marinheiro e ter uma tendência para pensar no mar, nas suas histórias, tragédias e tempestades. Somos tratados como "cancerosos" talvez porque as mentalidades mesquinhas confundem cancro com lepra ou tuberculose, que, estas sim, são contagiosas. Admiro a sua capacidade de resistência e a luta que travou e descreve muito bem na primeira parte; a sua conversa com Deus, de alguma forma "zangada" com Ele, dá-me a impressão que O sensibilizou fortemente, pois isentou-a de usar saco e deu-lhe a Carolina como prémio; não esqueça que esse prémio foi-lhe dado também porque se recusou a abortar! Alguém diz que Deus dá os grandes sacrifícios e as grandes provações a quem tem capacidade de as suportar... será que é para nos pôr á prova? Talvez... Quanto ao comportamento dos seus familiares, a Srª não está sózinha nesta área, pois temos alguns relatos anteriores a referir esse problema. Há muitos mais casos, mas talvez por falta de coragem ou até para não piorar ainda mais o ambiente familiar, se é que se pode dizer familiar, não vêm a público. Temos de guardar as energias todas para tentar ultrapassar a nossa própria luta pela sobrevivência, porque ningém luta no nosso lugar. Temos de saber receber as ajudas que vêm muitas vezes de fora, de forma expontanea e sincera. Temos de saber distinguir a ajuda verdadeira do "ter pena".
Por vezes temos autenticos "presentes envenenados"; a mim foi-me dito, na cara, quando fui operado a primeira vez , em 1998, aos cinquenta anos, o seguinte: Se fosse a mim que acontecesse o que te aconteceu a ti, dava um tiro na cabeça!!!
Se algém me dissesse que o teriam dito eu não acreditava, mas foi-me dito a mim!
Portanto, D. Isabel, continue a lutar com todas as suas forças, para poder disfrutar da companhia dos seus filhos, que são as suas "muletas" nesta dura caminhada da vida; é com eles que deve contar e é para eles que deve dirigir todo o apoio que ainda lhe sobra, porque apesar de muito debilitados temos ainda alguma capacidade de dar - temos é de saber escolher o destino desse nosso esforço.
Termino conforme comecei: como deve ter deduzido pelo meu desabafo, estamos no mesmo barco - temos de o levar a Bom Porto, enquanto tivermos força para remar.
Desculpe se não consegui ajudá-la, mas a intenção foi essa e ajudar-me também a mim, o que aliás conseguiu com o seu Testemunho. Ficamos mais fortes depois de ler relatos impressionantes! Dizia HELEN KELLER - Nenhum pessimista descobriu o segredo das estrelas, ou navegou por mares desconhecidos, ou abriu uma nova porta ao espírito humano.
OPTIMISMO, recomenda-se! Desejo-lhe um ANO NOVO MUITO FELIZ, principalmente com Saúde. Força de Vontade a Srª tem - mantenha-a.!
OS MESMOS VOTOS PARA OS COMPANHEIROS DE JORNADA E LEITORES QUE NOS VISITAM. Agostinho Luís Barreiros 25/12/2010 Viseu
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