Obesidade é responsável por 2% a 6% dos gastos com saúde pública
Os especialistas acham que em 2030 metade dos britânicos serão obesos e que o governo deve tomar medidas para o impedir
O estudo publicado na quarta-feira pela revista "The Lancet" pôs o mundo inteiro a olhar para o tamanho da barriga. Segundo a publicação científica, o número de obesos no Reino Unido e nos Estados Unidos deverá duplicar até 2030. Em Inglaterra, estima-se que um em cada quatro adultos tem excesso de peso, enquanto nos Estados Unidos a situação é mais preocupante, com um em cada três adultos com quilos a mais. A este ritmo, em 2030 haverá 26 milhões de obesos no Reino Unido - agora são 15 milhões, no país da Europa com a mais elevada taxa de obesidade - e nos EUA o número pode subir para 165 milhões.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) fala numa "epidemia de obesidade" mundial que começou na década de 70 e no princípio dos anos 80, "quando as pessoas começaram a gastar mais dinheiro em comida, e portanto a consumir mais". Os números avançados pela "The Lancet" são assustadores. Estima-se que em todo o mundo 1500 milhões de adultos e 170 milhões de crianças têm problemas sérios de peso. A "epidemia" é responsável por 2% a 6% dos gastos com saúde, por exemplo graças a doenças como a diabetes. No Reino Unido, onde 2,5 milhões de pessoas foram diagnosticadas com diabetes do tipo 2, a procura crescente de medicamentos fez com que os preços subissem 40%. Os especialistas avisam que, se a tendência actual continuar, os gastos serão insustentáveis dentro de 20 anos.
Os médicos britânicos da revista "The Lancet" pensam que os governos devem tomar medidas para impedir que a obesidade atinja valores trágicos. Aplicar impostos de 10% sobre a comida menos saudável, restringir anúncios de fast-food e refrigerantes e incrementar programas de educação alimentar nas escolas são alguns exemplos.
"Há mais vontade de investir em medicamentos e cirurgias que de lidar com as causas subjacentes [à obesidade]", afirma o professor australiano Boyd Swinburn, que trabalha para a OMS. O especialista compara também as tácticas de publicidade da indústria alimentar com as usadas pelas empresas de tabaco para viciar os consumidores nas décadas passadas. O investigador Steven L. Gortmaker, da Universidade de Saúde Pública de Boston, concorda e acredita que, além da "proibição de anúncios de refrigerantes e fast-food para crianças", também a comida menos saudável deveria ser taxada. "Ainda nenhum governo deu o primeiro passo nesta matéria e nos Estados Unidos não seria particularmente popular, mas teria um grande impacto nas taxas de obesidade e na saúde da população em geral."
Na mesma revista, alguns especialistas defendem que durante muitas décadas os nutricionistas se basearam numa premissa errada para os programas de emagrecimento. "Apenas tiveram em conta o número de calorias ingerido e não as mudanças que se iam produzindo no metabolismo", diz o médico Kevin Hall. "Geraram expectativas pouco realistas nos obesos, que acreditavam que iam perder peso muito depressa."
por Clara Silva, Publicado em 27 de Agosto de 2011- www.ionline.pt