Apifarma promove sessões sobre ensaios clínicos- Doentes ajudam na descoberta de novos tratamentos
2011-09-12
O papel do doente na realização de ensaios clínicos é fundamental, no entanto, é importante que este esteja devidamente esclarecido relativamente às funções de todos os intervenientes (investigador, promotor e doente). Foi neste sentido que a Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica (Apifarma) promoveu uma iniciativa que envolveu duas sessões de formação, em Lisboa e no Porto, sobre «Ensaios clínicos: da molécula ao medicamento», destinadas a doentes e às suas associações.
A Apifarma organizou, recentemente, duas sessões de formação sobre ensaios clínicos. A iniciativa, destinada a doentes e suas associações, foi ministrada por médicos investigadores, especialistas e instituições promotoras de ensaios clínicos.A primeira acção realizou-se em Lisboa e contemplou visitas aos laboratórios do Instituto de Medicina Molecular (IMM) e ao Centro de Ensaios Clínicos do Serviço de Neurologia do Centro Hospitalar Lisboa Norte. Na segunda sessão, no Porto, os participantes tiveram a oportunidade de visitar os laboratórios do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (IPATIMUP) e o Centro de Estudos do Instituto Português de Oncologia do Porto (IPO Porto).No total, a iniciativa contou com a participação de 23 associações de doentes portuguesas. No final, as opiniões foram unânimesm relativamente à importância da participação esclarecida em ensaios clínicos.
Para Mariana Oliveira, secretária-geral da Fundação Rui Osório de Castro, instituição de solidariedade social que apoia as crianças com cancro e suas famílias, «sessões desta natureza são muito importantes, não só para as entidades que trabalham nesta área, como para as pessoas que, de alguma forma, lidam com questões relacionadas com a saúde, a tí-tulo pessoal ou familiar». De acordo com a responsável, apesar de centrar a actuação na área informativa,através da divulgação de informação sobre a Oncologia Pediátrica, a instituição promove ainda uma área de investigação científica ao apoiar a celebração de protocolos de ensaios clínicos mediante o financiamento das apólices de seguros para as crianças que venham a ser registadas.
«As associações de doentes devem promover o avanço desta realidade em Portugal, desbloqueando alguns entraves que ainda se fazem sentir, podendo os doentes pressionar estas associações, institutos médicos e até profissionais
de saúde, na realização destas investigações», defende Mariana Oliveira.
Por seu lado, Elvira Dias, presidente da Associação de Pais e Amigos de Portadores de Síndroma Rubinstein Taybi (APART), alerta para a importância da comparência das associações, dos doentes e familiares neste tipo de eventos, visto ser uma óptima oportunidade para aprender. Lamenta, contudo, que os doentes e familiares apareçam pouco, muitas vezes por «vergonha dos problemas que têm».
Na opinião do Eng.º Vítor Neves, presidente da Europacolon Portugal – Associação de Luta Contra o Cancro do Intestino –, «os ensaios clínicos são uma oportunidade para os doentes, após confirmação de que a doença não responde aos diversos tipos de terapêutica existente, poderem ter acesso fácil aos medicamentos da última geração».
Além disso, acrescenta, «a inclusão na investigação clínica dá-lhes a oportunidade de poderem ter uma nova esperança na redução da doença, um acompanhamento ainda mais próximo e personalizado pelos profissionais de saúde e de o iniciarem imediatamente, dado que esta participação não traz custos para o doente nem para a instituição onde ele está disponível».«As associações de doentes devem promover a informação, junto da população em geral e em particular dos doentes e cuidadores, do que representam os ensaios clínicos – da sua estratégia, dos seus objectivos, das suas vantagens, dos inconvenientes, dos centros de referência (nacionais e internacionais) onde eles decorrem – para que os doentes possam decidir de forma esclarecida candidatar-se à sua inclusão», adverte Vítor Neves. E conclui:
«Desta forma, o doente está também a colaborar, de forma decisiva, única e elevada no processo de investigação e aprovação final de novas terapias.»
Ensaios clínicos: o que são?
O ensaio clínico é uma investigação conduzida no ser humano que permite aferir se um novo tratamento é seguro e eficaz para os doentes. Contribui para o aumento do conhecimento científico sobre determinada doença e sobre novos medicamentos.No decorrer da iniciativa, foi explicado o significado do consentimento informado – documento que explica os objectivos do ensaio, os benefícios esperados, os riscos conhecidos e as responsabilidades do doente. Consiste, no fundo, numa declaração que é assinada pelos doentes e que obriga os investigadores a conduzir o estudo de acordo com as normas de boas práticas clínicas.
Os participantes têm o direito de abandonar o estudo a qualquer altura e podem também ser excluídos da investigação se os responsáveis tomarem conhecimento que um agente os pode prejudicar.
Sublinhou-se, também, que é nos centros de estudos que incluem um maior número de doentes em ensaios clínicos que a mortalidade é menor e existem melhores hábitos de prescrição terapêutica (mais próximos do que defende a comunidade científica). Uma realidade que leva a que os hospitais prestem melhores cuidados de saúde mesmo a quem não faz parte dos ensaios.
Outra das questões abordada pelos oradores prende-se com os riscos associados aos medicamentos experimentais que, como foi referido, devem ser discutidos entre o mé-dico e o doente antes da adesão ao ensaio clínico.
Habitualmente, os riscos possíveis incluem efeitos secundários desconhecidos ou mais fortes do que havia sido detectado em estudos anteriores ou com menor eficá-cia do que o previsto.
«Faz parte da missão da Indústria Farmacêutica o desenvolvimento de ensaios clínicos», referiu o Dr. João Barroca, vice--presidente da Apifarma, na sessão que decorreu no IPATIMUP, lembrando que «a investigação tem estado muito ligada ao desenvolvimento de novos medicamentos».
O responsável recordou que os novos fármacos melhoram a qualidade de vida das populações. «É à sociedade que eles se destinam, neste sentido, é importante que esta tenha um papel cada vez mais interveniente nestas matérias e só o poderá fazer se estiver esclarecida.»
Publicado no Expresso- Dossier Especial" Saúde Pública" em 10-09-2011